17/02/2008

Ferro

Encontro-me no melhor lugar
Num banco de estação de comboios
Entregue a mais uns pensamentos misturados
Como palavras soltas num saco de veludo
Encontro-me no melhor lugar
Neste mundo sou livre de escrever o que quiser
Tremo de frio, mas este é sem dúvida o melhor lugar do mundo
Ouço carros que deslizam em poças
Porque hoje chove a cântaros
E o frio deste banco arrefece-me por dentro
arrefece a dôr que tenho na perna esquerda
Já não há nada a acrescentar num mundo que fuma
Que negros são estes que têem tanto a dizer num mundo com pulmões podres prestes a assassinar-lhes a eles e a mim por vingança
Os olhos pesam-me, a barriga dói...não tanto quanto a perna
Mas este continua a ser sem dúvida o melhor lugar
Em que o tempo já não importa
Importam sim as estações terminais como Sintra
Importam as duas pessoas que amavelmente me pedem para esclarecer dúvidas acerca disso
Merecem então pessoas como estas serem assassinadas?
São pessoas que reparam na minha presença enquanto ocupante de um lugar no mundo como mulher, e por isso já sou levada a sério, porque confiaram nas minhas afirmações
Posso então dizer que sou uma mulher ("minha senhora, sabe me dizer(...)") com frio no traseiro que aceita dores, e frio na ponta dos dedos, mas que não se aceita por vezes, que não aceita a invisiblidade de multidões, prestes a serem assacinados por medo de se dirigirem uns aos outros.
Este é o melhor lugar, faz frio no traseiro, mas continua a ser o melhor lugar.

1 comentário:

Balbino disse...

Não é o melhor lugar do mundo, nem a melhor situação. É a tua condição. E a deles.


P.S. - Tu és "tramada". (agora tem de ser assim)