23/04/2008

Barreira

Que moinho irá moer, esmigalhar, estes sonhos que jazem aqui mortos, onde as ideias se vão separar em migalhas de sonhos outrora vivos?
Que rio é este onde não posso molhar os pés?
Que tipo de respostas existem aqui do outro lado da minha rotina?
Quem me vai trazer agora o meu vinho da consciência?
Para onde foram os peixes que desesperavam por água limpa? E eu... Que desespero pelo ar que me preencheu de conclusões...
Que medo que é vaguear sem se saber o que se está a procurar...
A espuma amarelada do rio enoja-me como se estivesse na minha boca... O enjoo de um balanço nas ondas faz este mão escrever gritos de calamidades!
Mordo a boca por querer morder o mundo... Crio aftas para dar relevo ao nosso interior.

20/04/2008

Blond Amanda


Atei os fios das minhas botas de couro com bastante dificuldade tal não era a minha bebedeira... Depois fui ao espelho com fotos de Bon Jovi, e outras tantas bandas iguais lá coladas, em vez de beijar pela milésima vez o Jon Bon Jovi, olhei-me com atenção: Estava com uma cabeleira digna de uma saída igual a tantas outras, onde esta mesma cabeleira sempre foi a mais "juba" de todas, já para não falar das minhas novas madeixas pretas entre tanto cabelo loiro palha. Depois tomei atenção às franjas do meu casaco de cabedal, estavam todas entrelaçadas da noite anterior, abri um braço e endireitei-as, abri o outro para a mesma coisa, para poder dizer adeus do carro descapotável do meu namorado e as franjas poderem abanar bastante... Assim mandam as regras dos bon rockeiros: franjas e mais franjas nos casacos e nas botas se for preciso!
Passei um batom vermelho berrante pelos lábios, exagerei ainda mais o risco dos meus olhos, esfumei-o até as sobrancelhas, peguei na mala também ela de cabedal, e saí...

Para me drogar, para me embebedar mais uma noite, para ouvir os meus amigos mais a sua banda igual a tantas outras...

06/04/2008

(...)não queiram mal a quem canta
quando uma garganta se enche e desgarra
que a mágoa já não é tanta se a confessar à guitarra
quem canta sempre se ausenta da hora cinzenta da sua amargura
não sente a cruz tão pesada
na longa estrada da desventura(...)

fado lisboeta

02/04/2008

NADA!

Tenho a visão turva, agora vejo tudo desfocado, fosco... Agora forço este olhos verdes para focarem estas letras porque tenho de escrever... Sinto a cabeça constantemente a abarrotar de manifestos, romances, poemas, músicas, críticas, frases absurdas, mais umas coisas rudes, e outras cheias de mágoa, e traumas trágicos, no entanto não estou a conseguir escrever aquilo que quero... Bem, talvez escreva um manifesto anti-unificação da língua... Não..! Nem pensar! Vou-me acomodar a este sítio, acreditar na televisão sempre ligada, e tirar os c's das minhas reacções...

Perdi os meus óculos, por isso não consigo ver o mundo... não consigo ler acordos ortográficos, nem caras de desaprovo, não consigo avistar conhecidos que não querem conhecer, não consigo ver sorrisos, e piscar de olhos... Agora só sinto palmadinhas nas costas tão leves e caridosas e ao mesmo tempo tão pesadas que se não fossem as garras de um lince, os ossos partiam-se.