26/01/2008

Pinto os olhos de preto

Não vou conseguir escrever. Não consigo criar, não sei. Não faço. Não quero. Quero, muito, quero tanto, quero demasiado. Dói, está a doer, a tinta escorre, está a escorrer. Quero pedir para parar, não consigo, viola-me mais, derrota-me mais, arromba-me mais. Faz-me bem, faz-me muito bem. Foda-se estou farta, cansada, saturada, deixem-me ser assim, estou a evoluir, estou a crescer, ninguém me impede disso, ninguém me vai conseguir impedir de realizar, de criar, mas eu não estou a conseguir, não consigo criar nada. Deixem-me criar!!! Quero ler, não entra, não interiorizo, não quero. Quero, eu só quero, preciso, preciso tanto. Mata-me, derrota-me se quiseres, eu não sei, não sei, nunca soube. Sei todos os dias vou sabendo mais, vejo, percebo, enjoo, vomito vazio, sinto nojo do chão que piso. Amo o chão que piso, não quero comer, não quero comer isso, quero comer, tenho fome o dia todo tenho muita fome, mas não consigo, aguento, não vou mijar agora, vou, vou fumar um cigarro, que se foda. Não pode ser, tosse mais tosse, não posso. Tão caro! Não tenho. Quero, quero tanto ir, quero tanto voltar, não me quero lembrar porque me mata, mata-me devagarinho. Mas depois passa. a tinta escorre, o verde podre rodeado de vermelho com tinta a escorrer, pintura francesa a escorrer, tão bem desenhada que foi, é só o que sei fazer agora, escorre mais um pouco, não está a parar. O que é que vais dizer? não digas! não agradeço, não quero. Sofro. Morro agora, não foi desta, mais, mais um pouco, esfaqueia-me mais, mais, mais, mais, mais, maiiiiis!!! limpo a tinta, limpo o lápis preto dos meus olhos inchados, verdes como esmeraldas, verdes cada vez mais claros de tão vermelhos que estão, e que são e que vão ser, lábios secos, dizem cada palavra do que eu quero, do que não quero para ninguém ler, para ninguém saber, eu não quero escrever isto, não quero, não quero, apareceu do nada, não tenho culpa. Não tens culpa, leva-me para a tua cama, abraça-me com muita força, deixa-me sujar-te o ombro com esta tinta infinita.
Não consigo, concretizo. Não sou perfeita, mas trabalho muito para fazer bem. Não mostro sempre afecto, mas sinto tudo a dobrar. Não ataco, mas defendo-me como uma criança com medo. Sou feliz, porque sou amada. A pintura negra escorre sempre.

1 comentário:

Teresa Raquel disse...

E acordei eu para vir ler isto. Se soubesse, tinha ficado acordado para te impedir que o escrevesses.
Sabes qual é o problema? É que pedem sinceridade, pedem aquilo que tu és, sem máscaras, sem nada. E, apesar de dar tudo, eles continuam a pedir e a pedir. E é nessa altura que te começas a questionar e a duvidar de ti mesma. Mas ouve o que te digo - ouve muito bem - não tens que dar mais. Dás o que tens e deixa-os a pedir, caso eles não estejam satisfeitos. Porque, afinal de contas, eles fazem isso a cerca de 100 e tal pessoas todos os anos, e no fundo estão-se realmente nas tintas.

Mas jamais te questiones! Porque há gente a precisar de ti a cantar Abba, a ouvir Fade to Blacks e a vestir roxo. Há pessoas que precisam de ti como tu realmente és. E não como o Grande Irmão te quer. Como tu és. Como tu és. Como tu és. Como tu és. Como tu és. Como tu és. Como tu és. Porque, a ti, jamais te comprarão.