08/04/2007

Em Contra-ambição II

Quero tudo, e não quero nada ao mesmo tempo. Sinto por vezes vontade de me deitar, respirar para um bom sentimento e ouvir aquela junção perfeita de notas que entraria na perfeição pelos meus ouvidos... Passa um minuto... 60 segundos... e o prazer desvanece-se por completo... Passo a desejar ardenemente uma noite de risadas acompanhada de um copo cheio de alegria.

Quando eu era pequenina, a casa dos meus pais era grande e na despensa eu tinha espaço para inventar uma série de entretenimentos, e construir sonhos idiotas próprios de uma criança de seis anos, entre todos os artefactos, o algodão servia para adaptar os sapatos de salto alto da minha mãe aos meus pés. Lá saia eu toda feliz e pomposa da dispensa, com toda uma postura de senhora, convicta que 30 anos tinham passado sobre mim. Tive uma fase em que me fartava de escrever contos, poemas, pensamentos... Enfim, poderiam até não ter grande conteúdo literário de qualidade mas aquele era o meu entretenimento na maior parte das vezes. Com o tempo a ocupação escolar tornou-se maior, e o tempo que me sobrava era preenchido pela companhia de um bom livro, ou então de um saudoso grupo de amigas. Graças a certos filmes que deveriam ter como introdução um Warning de "não façam isto em casa", convenciamo-nos de que tínhamos todas poderes sobre-naturais, que podíamos ser bruxas, cada uma com a sua característica. As sessões espirituais vistas do meu ponto de vista de hoje em dia não passavam de tentativas incendiarias na casa de cada uma...a que calhasse.
Mas contudo muitas eram os sapatos de salto alto ou os "fabulosos feitiços" para completar um dia de uma menina de seis anos, ou de uma pré-adolescente... (como as meninas de onze anos adoram ser chamadas)

E o que é que tudo o que acabei de escrever pode ter relação com a minha chamada "contra-ambição"? É que neste momento não estou com inspiração para escrever o que quer que seja, nem um poema, nem um pensamento ou algo que mesmo não possuindo conteúdo literário de qualidade seja bom de escrever, ah! E de ler... Não quero acender uma vela vermelha acreditando que encontrarei o amor da minha vida através de um feitiço, e já não tenho em meu poder uma dispensa cheia de tralha para recordar uma infância solitária, e neste momento uma simples junção de notas musicais não é aceite pelos meus ouvidos...nem pelo meu saco lacrimal...nem pelo meu coração...

Neste momento, quero tudo. . .

. . .mas não quero nada

5 comentários:

Sofia disse...

Creceste desde os 6 anos até hoje... há coisas fenomenais, pá!

ahah, beijinho.

Anónimo disse...

POIS...

Anónimo disse...

"Um sonho? É o tempo em que esqueces o que és e fazes o que podias ser. Quando o homem sonha... cresce, fica maior, melhor. Achas que é um disparate?"
"Eu quero sonhar. Toda a gente devia sonhar, uma vez na vida toda a gente devia sonhar."
"Sabes quando é que um homem não é um homem? Quando tem vergonha de ser criança."

Arnold Wesker pela voz de Peter.
Ou a voz de Peter pelas mãos de Wesker.

Conde Gonçalo Carvalho disse...

Uma vez fiz uma peça em que se dizia....

« Vida... O que és tu senão um sonho... »...

enfim....
Gostei muito do texto!!!!

:)

Balbino disse...

É preciso deixar de acender velas vermelhas, para os astros se alinharem na tua direcção. É preciso adbicar de tudo, não exigindo absolutamente nada, para dares por ti com tudo aquilo que sempre querias. É preciso dizeres passares por dificuldades, para viveres feliz para sempre? Quem sou eu...?