Desmantelei-me em várias mulheres, ou seja, vi o mundo a partir de diversos prismas.
Uma das mulheres não podia continuar porque não acreditava nem no chão que estava a pisar. O mundo mostrava-se pesado, tão pesado que acabou por cair mesmo por cima da sua cabeça, enquanto procurava um fio de esperança no embrenhado que eram aqueles seus pensamentos.
A outra, a outra... Era a actriz! A actriz com medo que não se contentava apenas com a voz colocada, afinada quando começava a cantar um fado ou outro, para as ruas de Lisboa, (até as velhinhas se punham a janela para a ouvir!), "Hei-de acabar numa casa de fado vadio!". Era a actriz que decorava texto através da memória fotográfica que todos nós ouvimos falar, era a actriz que agradecia não só às personagens "por me darem oportunidade de sorrir quando não me aptece, de chorar quando secalhar não quero...", mas também ao seu poder de dialéctica e oratória, por conseguir assim "umas vagas regalias"... No entanto "as palavras faziam-te vacilar", era o que pensava constantemente... O texto martela-lhe agora, todos os segundos na sua cabeça, a actriz ainda vive, e vai viver por muito mais tempo, vai desbravar um caminho cheio de espinhos e urtigas, cheio de sonhos e ilusões, cheio de cigarros, e inúmeras lutas contra eles, cheio de amor para dar, e muito pouco que recebeu depois de ter descoberto o coração confuso dos actores que agora eram a sua companhia por opção própria... "Sou a fraldiqueira, a pútrida!(...)" Não, não era! Mas sentia-se assim, sentia-se assado, sentia-se a perder-se nos seus pensamentos, nas suas perguntas pertinentes que acabou por nunca as colocar, por querer apenas confirmar aquilo, que só os GRANDES actores poderiam confirmar, e confirmaram! Ela não era grande...ainda...Era...era ela. Sozinha. Apaixonada por letras e as suas infinitas conjunções, pelos autores que não conhece, e pelos que não conhecia mas passou a conhecer; apaixonada sobretudo pelo chão de madeira corrida que pisou naquela noite. As cadeiras muito direitas, a representação e a lição, a lição de vida... Era isso que lhe fazia acreditar nos seus intentos, nas suas convicções, queria beber mais daquilo que tinha obrigação de um dia mais tarde ter que saber!
Haviam mais umas quantas mulheres para descrever, resultantes deste desmantelamento... mas nem tudo pode ser só sobre ela, sobre o que sente, sobre o que pensa, o resto tem que ficar guardado, tem que se reservar no coração para depositar no seu âmago. "E as suas mãos?Não desvairem elas também!"
Je t'aime (moi non plus)
Há 12 anos
2 comentários:
estás fora de ti não estás ?
eu hoje também
quero daqueles dias de quarto escuro, um filme e chocolate
qualquer personagem é 'obrigado. foi um prazer'
am(ava)o-te demasiado
Aprendemos tanto ali. Naquela hora. Vamos aprendendo tanto aqui. Aqui, nesta ou numa outra escola. Neste ou num outro lugar. Aqui ou ali. Longe ou mesmo ali ao virar da esquina. Aprendemos tanto numa hora. Aprendemos sempre tanto só em minutos. E assim crescemos. E assim um dia serás uma actriz. Uma actriz grande, maior do que já és.
Adoro-te. Adoro as nossas mensagens à meia-noite só para dizermos uma à outra de que gostámos de estar juntas. Adoro.
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