22/11/2008

"Talento"

"86 - O normal é termos em nós um molde para as ideias que recebemos. As ideias têm a sua conformação, nós temos a nossa. Se uma ideia nos atinge, é porque coube no nosso molde. Se não, arrumamo-la na prateleira de nós, onde ganha bolor. Se todavia alguma vez a utilizarmos há que acomodá-la ao que somos. Entre o molde que é nosso e o que é das ideias, se algum se pode ajeitar, é o delas. Assim as amolgamos para caberem, lhes damos uma forma que não é para caberem, lhes damos uma forma que não é a sua para serem o que não são. Mas isso tem limites, mesmo que elas fossem de lama.
Os que no entanto, não têm moldes nas suas possibidades receptivas, engolem tudo. Não têm molde, têm um estômago forte ou um armazem de merceeiro. As ideias não são neles funcionais ou são moeda de compra e vena como os lápise as borrachas dos miúdos da escola. Não se transacciona uma ideia como se não transacciona a nossa pessoa. Mas há quem não seja pessoa."

(...) "Pensar" Vergílio Ferreira

Assim fomos trocando palavras que juntas não fizeram grande sentido, porque estávamos sentados nas escadas da subjectividade, com um cigarro de subjectividade, a beber subjectividade, aceitando uma boleia para a subjectividade que, ainda por cima não tem fundo como um poço de aldeia; olhamos para o seu fundo e não sabemos onde acaba.
A sociedade não será nunca a nossa desculpa, porque ou estamos a sonhar constantemente, ou somos aquilo que fazemos e não o que dizemos.
O que aconteceu? Enfim... Amámos-nos naquelas escadas. Três pessoas não poderiam realizar nada mais que ideias com formas distintas que se ligaram numa e a mesma coisa; numa massa revolucionária que rumou até Benfica.


Feliz!

Um Beijo.

PS: Talento é isto.

" 21- O que você escreveu parece-me um disparate.
- Mas foi justamente que eu quis.
- Tanto pior. "